segunda-feira, 9 de maio de 2011

Tratamento de água em trilhas e acampamentos

O corpo humano é composto de mais de 70% de água e, quando perde líquido, perde não apenas água mas sais minerais também. Assim, quando ele sente sede, significa que precisa não apenas d’água mas de sais minerais também (por isso o sucesso das bebidas isotônicas). E, se a água for poluída, ela não apenas matará a sede como poderá contribuir com algumas doenças desagradáveis. Então, melhor conhecer bem o “inimigo” e aprender a tratá-la de forma adequada. Assim, mesmo a água de uma travessia como a clássica Petrópolis-Teresópolis, que já está com praticamente todos os seus pontos d’água poluídos por visitantes descuidados, pode ser consumida.


Dizem que, se você começa a sentir sede, é um sinal que seu corpo já está desidratado. Beba antes de senti-la. Para isso, defina um tempo (curto) e siga-o à risca. Por exemplo, tome um gole de uma garrafa pequena, sempre ao alcance da mão, de quinze em quinze minutos. O alarme do relógio pode te ajudar a lembrar com precisão esta importante tarefa. Uma boa idéia pode ser deixar a sua garrafa na mochila do companheiro, para facilitar no acesso à mesma (mas isso só vale se vocês caminham no mesmo passo), o que te dará um trabalho a menos na hora de esticar a mão para pegar a garrafa e beber (quando o tempo é curto, tirar a mochila consome preciosos segundos que podem ser usados em coisas mais importantes).
Um rio cristalino correndo no meio de um vale pode esconder impurezas que nós não vemos, como um animal se banhando ou usando o rio como banheiro um pouco acima de onde você está. Desta forma, aquela água “limpinha” e fresca que você acaba de pegar pode estar contaminada, mesmo que não pareça. Por isso, é fundamental saber tratá-la corretamente.

Principais contaminantes da água

  • Vírus: Em função de sua fragilidade e sensibilidade, os vírus dificilmente chegam de forma infecciosa aos rios. Uma excessão é o vírus da Hepatite A (existe vacina) que pode deixa-lo um bom tempo de cama. Os vírus são capazes de atravessar praticamente todos os filtros (desde coadores de café até membranas de microfiltração como o canudo life-straw) porém são facilmente eliminados por agentes desinfetantes.
  • Bactérias: Existem milhões de espécies de bactérias no mundo, milhares distintas em um copo de água e poucas delas são nocivas aos seres humanos (patogênicas) como é o caso do vibirão colérico da salmonela e da bactéria causadora da leptospirose. A identificação de todas as bactérias é impossível do ponto de vista prático e econômico, desta forma, em tratamento de água usualmente são realizados testes para detectar apenas uma família de bactérias conhecida como “coliformes”. Os coliformes, ao contrário do que muitos pensam, são praticamente inofensivos ao ser humano. Como a sua determinação é muito simples, são utilizados como indicadores, quando estão presentes na água indicam que outras bactérias (perigosas ou não) também podem estar presentes. Como a evolução de infecções causadas por bactérias costuma ser rápida, você tem grandes chances de apresentar os sintomas ainda durante a viagem. As bactérias são capazes de transpor a maioria dos filtros (exceto membranas) e estão presentes em águas poluídas ou não.
  • Protozoários e Vermes: Estes organismos podem estar presentes em qualquer manancial, desde um límpido rio de serra até na água do mar. Dentre os integrantes indesejados deste grupo estão a giárdia, os helmintos e as amebas.
  • Compostos orgânicos tóxicos: Nesta categoria entram os perigosos poluentes criados pelo homem como os pesticidas, herbicidas, óleo e combustíveis. O perigo de cada um destes varia muito e a melhor forma de não contaminar-se é não tomando água proveniente de rios que margeiam plantações de hortaliças ou grãos bem como áreas industriais.
  • Compostos iônicos: Neste grupo estão os sais (como o sal da água do mar), nitratos, mercúrio, fluoretos, chumbo, cromo, etc. Em geral causam problemas após a ingestão de grandes quantidades de água ou por períodos prolongados. As doenças que podem ser desenvolvidas a partir do consumo de água com estes contaminantes são as mais graves de todas e em muitos casos não tem cura. Como regra geral, o recomendado é evitar o risco e não beber água em locais com suspeita deste tipo de contaminação (próximimidade a a fábricas de cortume, de tintas e mineradoras).

Métodos de tratamento para uso em viagem

  • Desinfetantes químicos: Os desinfetantes químicos são uma das formas mais comuns de tratamento de água para viagens. Usualmente estes agentes são compostos de cloro, permanganato de potássio, peróxido de hidrogênio (água oxigenada) ou iodo e são capazes de eliminar protozoários, bactérias e vírus de forma eficiente. Se utilizados sozinhos, são pouco eficientes contra ovos de parasitas como é o caso dos helmintos. Para usar de forma segura um desinfetante químico, alguns cuidados devem ser tomados:
    1. Validade – O cloro e o peróxido de hidrogênio são instáveis, ou seja, com o passar do tempo o princípio ativo se perde. Sempre observar o prazo de validade, proteger muito bem do calor e da luz do sol e tampar bem os frascos após o uso. O iodo é estável e tem prazo de validade indeterminado, todavia, pode causar reações graves em pessoas alérgicas.
    2. Tempo de contato – Para a desinfecção eficaz é necessário um tempo de contato mínimo de 30 minutos. Se a água tiver cor amarelada ou avermelhada recomendo dobrar o tempo de contato.
    3. Clarifique a água sempre que possível – A água turva, com barro ou outros sólidos prejudica muito (quando não inviabiliza) a desinfecção, além disso, a presença de algas pode neutralizar o desinfetante e até liberar sub-produtos tóxicos. Neste caso torna-se necessária uma pré-filtração por filtros de cartucho ou membranas. A pré-filtração também vai remover os ovos de parasitas.
  • Filtros de cartucho ou de cerâmica: Não apresentam eficácia na remoção de bactérias, vírus, orgânicos tóxicos ou compostos iônicos porém podem ajudar a previnir vermes. Como clarificam a água retirando partículas de sujeira mais grosseira, aumentam a eficácia dos desinfetantes químicos.
  • Filtros de carvão ativado: São eficientes na remoção de compostos orgânicos tóxicos, sabor e odor da água. A maioria dos filtros a venda no mercado possui pequena quantidade de carvão ativado (mesmo os de marcas de renome), suficiente para a remoção de sabor e odor, porém ineficaz contra os compostos orgânicos tóxicos. Para não ser enganado, ao comprar um dispositivo com carvão para uso em viagens, certifique-se de que a camada de carvão tem alguns centímetros de espessura. O carvão ativado não tem qualquer inlfuência na remoção de bactérias, vírus e compostos iônicos. É importante lembrar que o carvão neutraliza o cloro, logo filtros que cloram a água e depois passam pelo carvão tendem a ser pouco eficientes.
  • Filtros com base em membranas de microfiltração: Esta é a última tecnologia em termos de tratamento, equipa produtos como o “Filtrix FilterPen” e o “Life Straw”. Esta tecnologia é altamente eficaz na remoção de bactérias, protozoários e vermes, maiores causadores de doenças, porém pouco eficiente contra vírus, compostos orgânicos e compostos iônicos. Como a separação por membranas é física, não há efeito de desinfecção residual (como é o caso do cloro). Desta forma a água, assim que tratada, deverá ser consumida.
  • Sacos para desinfecção ao sol: Os raios ultra-violeta são eficazes contra vírus e bactérias. Todavia, para que a promovam a desinfecção, são necessários os seguintes cuidados:
    • O recipiente deve estar exposto à luz solar intensa por no mínimo 12 horas (12h de sol);
    • A água a ser tratada deve ser cristalina, com mínima turbidez ou cor;
    • O recipiente deve estar limpo de forma a permitir a máxima absorção de luz solar. Sacos plásticos tendem a ficar opacos com o tempo;
    • A profundidade de penetração dos raios UV normalmente é baixa, desta forma, o recipiente deve ser pequena espessura (algo como 5cm é indicado).

Vi no Cantinho da Unidade